Onfim

Estátua de Onfim em Veliky Novogárdia, Rússia

Onfim (Russo: Онфим; em antigo eslavo oriental: Онѳиме, transl. Onθime; também Anthemius de Novgorod) foi um rapaz que viveu em Novogárdia (agora Novogárdia Magna, Rússia) no século 13, algum tempo à volta de 1220 ou 1260. Ele deixou as suas notas e exercícios do trabalho de casa arranhados em casca de bétula[1] que foi preservada no solo de barro de Novogárdia.[2] Onfim, que provavelmente tinha seis ou sete anos na altura, escreveu no dialeto eslavo oriental da Antiga Novgorod. Além de letras e símbolos, ele desenhou "cenas de batalhas e desenhos dele e do seu professor".[2]

Antecedentes

Novogárdia, agora conhecido como Novogárdia Magna, é o centro administrativo de Novogárdia Oblast. Na altura em que Onfim viveu, era a capital da República da Novogárdia. Os acadêmicos acreditam que a República da Novogárdia tinha um nível estranhamente alto de literacia para a altura, com a literacia a ser aparentemente difundida em diferentes classes e entre ambos os sexos.[3] A 200 km sul de São Petersburgo, a cidade está rodeada por bétulas, cuja casca foi usada por séculos pelos locais para escreveu pois era mole e fácil de arranhar.[2] Desde 1951, mais de 1100 pedaços de casca de bétula com escrita foram encontrados, e continuam a ser descobertos.[4]

Na Rússia, manuscritos em casca de bétula chamam-se beresta ("casca de bétula", plural: beresty), e o campo acadêmico que os estuda chama-se berestologia[5] (russo: berestologija).[6] O grande número de beresty é indicativo de uma grande taxa de literacia entre a população.[2]

Escrita de Onfim

Onfim deixou dezassete itens em casca de bétula conhecidos. Doze desses têm ilustrações, cinco só texto. Um dos desenhos tem um cavaleiro num cavalo, com o nome de Onfim escrito ao lado, a esfaquear alguém no chão com uma lança, com acadêmicos a especular que Onfim se imaginava como o cavaleiro. Os textos são claramente exercícios: Onfim praticava escrevendo o alfabeto, repetindo sílabas, e escrevendo salmos - textos que lhe eram presumivelmente familiares.[7] A sua escrita inclui frases como "Senhor, ajuda o teu servo Onfim" e fragmentos de Salmos 6:2 e 27:3.[8] A maioria da escrita de Onfim consiste de citações do Livro de Salmos.[9]

Exercícios de trabalho de casa e "Eu sou uma besta selvagem", c. 1260 (Item 199)

As ilustrações de Onfim incluem desenhos de cavaleiros, cavalos, flechas, e inimigos derrotados. Uma imagem, "um retrato dele, disfarçado como um animal fantástico",[10] é encontrado no item 199 (em cima; estava originalmente no fundo de um cesto feito de bétula), que contem uma foto de uma besta com um pescoço longo, orelhas pontiagudas, e um cauda encaracolada. A beste ou tem uma flecha com penas na sua boca ou está a cuspir fogo; um dos textos acompanhantes (por baixo da caixa) diz "Eu sou uma besta selvagem" (o texto na caixa diz "Cumprimentos de Onfim para Danilo", provavelmente um amigo ou colega).[11] O número de dedos nas mãos das pessoas variam de três a oito; Onfim ainda não sabia contar.[12]

As filas de cinco letras cada no outro lado do 199 são um exercício de alfabeto.[13] No item 205 (não apresentado neste artigo), Onfim escreve o alfabeto cirílico e adiciona "On[f]", para o seu nome, no meio; por baixo do alfabeto é o que alguns pesquisadores veem como um barco com remos.[14] O item 206 contem exercícios alfabéticos e "retratos do pequeno Onfim e os seus amigos".[15] Onfim não usava os yers, trocando-os com O e E; por exemplo, Onfim escreveu поклоно "arco (lit.); cumprimentos (fig.)" (cf. russo поклонъ; como escrito antes da reforma de escrita de 1918) e ꙁвѣре "besta selvagem" (cf. russo звѣрь e зверь; como escrito antes e depois da reforma de 1918, respetivamente).

Galeria

  • 200: Cavaleiro, com o nome "Onfim" á direita do montador, e em cima o alfabeto, A - K[7]
    200: Cavaleiro, com o nome "Onfim" á direita do montador, e em cima o alfabeto, A - K[7]
  • Carta em casca de bétula nº.202: lições de escrita e desenhos
    Carta em casca de bétula nº.202: lições de escrita e desenhos
  • 206: "Agora quando a sexta hora", uma série de sílabas, e retratos[14][16]
    206: "Agora quando a sexta hora", uma série de sílabas, e retratos[14][16]
  • Vários desenhos
    Vários desenhos

Notas

  1. Freeze 38.
  2. a b c d Chambers 184.
  3. Ianin, "Medieval Novgorod," 206.
  4. Schaeken 7.
  5. Dekker, Simeon (2018). «The Field of Study: Berestology». Old Russian birchbark letters : a pragmatic approach. Leiden: [s.n.] p. 1. ISBN 978-90-04-35320-6. OCLC 1030304572 
  6. Schaeken 8.
  7. a b Schaeken 101.
  8. Schaeken 103.
  9. Franklin 203.
  10. Yanine 54.
  11. Schaeken 102.
  12. The Birch Bark Post of the Centuries, Valentin Yanin
  13. Schaeken 105.
  14. a b Schaeken 104.
  15. "Slavic Paleography" 522.
  16. Денис Кижаев (13 de outubro de 2015). «А. A. Зализняк: О берестяных грамотах из раскопок сезона 2015 года» – via YouTube 

Referências

  • Chambers, John H. (16 de outubro de 2008). Everyone's History. [S.l.]: Xlibris. ISBN 978-1-4628-2167-9 
  • Franklin, Simon (2010). Writing, Society and Culture in Early Rus, c.950-1300. [S.l.]: Cambridge UP. ISBN 978-1-139-43454-6 
  • Freeze, Gregory (2002). Russia: A History, new edition. [S.l.]: Oxford UP. ISBN 978-0-19-162249-6 
  • Kent, Allen; Lancour, Harold; Daily, Jay E. (1979). «Slavic Paleography». Encyclopedia of Library and Information Science. 27. [S.l.]: CRC. ISBN 978-0-8247-2027-8 
  • Schaeken, Jos (2012). Stemmen Op Berkenbast: Berichten Uit Middeleeuws Rusland: Dagelijks Leven en Communicatie. [S.l.]: Amsterdam UP. ISBN 9789087281618 
  • Yanine, Valentine (2009). «The Dig at Novgorod». In: Thomas Riha. Readings in Russian Civilization, Volume 1: Russia Before Peter the Great, 900-1700. [S.l.]: U of Chicago P. pp. 47–59. ISBN 978-0-226-71843-9