Batalha de Marcianópolis
Batalha de Marcianópolis | |||
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Guerra Gótica (376–382) | |||
Movimentos dos tervíngios e grutungos no Império Romano em 376 | |||
Data | 376/377 | ||
Local | Ca. 14 de Marcianópolis (moderna Devnja, na Bulgária) | ||
Coordenadas | 43° 13' N 27° 35' E | ||
Desfecho | Vitória esmagadora tervíngia | ||
Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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Marcianópolis |
A Batalha de Marcianópolis, o primeiro confronto notável da Guerra Gótica de 376-382, ocorreu em 376 ou 377 após a migração gótica tervíngia sobre o Danúbio. Foi travada entre as forças do rei tervíngio Fritigerno, que rebelou-se contra o Império Romano após uma tentativa de assassinato durante um banquete em Marcianópolis, e as forças do governador romano Lupicino. O conflito teve como resultado uma derrota esmagadora para os romanos, com Lupicino sendo obrigado a fugir do campo de batalha.
Antecedentes
Em 375/376, os hunos avançaram contra os godos nas margens do mar Negro.[3] As incursões hunas causaram atritos no seio da confederação dos tervíngios, o ramo ocidental dos godos, enquanto obrigou os grutungos, o ramo oriental, a migrar em direção a fronteira tervíngia. O juiz Atanarico reuniu um exército para confrontar os invasores, mas foi derrotado e teve que fugir para a Caucalândia.[4] No verão de 376, o rei Fritigerno persuadiu muitos dos seguidores de Atanarico a abandoná-lo e então propôs aos tervíngios que solicitassem ajuda aos romanos. Alavivo, outro nobre gótico, é mencionado nas fontes como líder da negociação.[5] Ele conseguiu permissão do imperador Valente para assentarem-se no império.[6][7]
Segundo a resposta de Valente, que estava em Antioquia, seriam assentados na Mésia e Dácia e receberiam assistência romana durante a migração através do rio e antes de tornarem-se auto-suficientes e serem capazes de prover seu próprio sustento. Por estar em guerra com o Império Sassânida, Valente esperava poder recrutar boa parte deles como soldados para fortificar as cidades orientais,[8] bem como esperava que os demais seriam assentados como fazendeiros e então pagariam impostos.[9] O plano, contudo, acabou frustrado.[10]
Os godos atravessaram próximo de Durostoro (atual Silistra, na Bulgária)[10] e seu número excedeu a quantidade prevista, tornando insuficiente os suprimentos recolhidos, situação agravada pela demora de quase dois meses para a chegada da resposta imperial. Outrossim, tirando proveito da consequente fome sentida pelos recém-chegados, os oficiais romanos Lupicino e Máximo conseguiram muito dinheiro com a venda de miúdas porções de alimentos e carcaças de cachorros pelo preço da escravização de crianças tervíngias,[8] inclusive aquelas de origem nobre.[10]
Batalha e rescaldo
Como forma de controlar os inquietos tervíngios, Lupicino ordenou que as tropas da Trácia fossem enviadas à escolta dos imigrantes para um acampamento nas cercanias de Marcianópolis (atual Devnja).[11] Em Marcianópolis, provavelmente no outono de 376[12] ou inverno de 376/377,[13] Lupicino convocou Fritigerno e Alavivo para um banquete reconciliatório. Nesse ínterim, um grupo de godos famintos atacou as proximidades do assentamento e o oficial romano, interpretando como um golpe, mandou que seus homens matarem os guardas dos líderes tervíngios. Segundo Jordanes, Alavivo foi morto em meio à confusão enquanto Fritigerno escapava;[14] para Amiano Marcelino, no entanto, Fritigerno conseguiu convencer Lupicino a deixá-lo ir sob pretexto de poder acalmar seu povo.[15]
Fritigerno formou um exército com o qual começou a saquear vilas e fazendas próximas à cidade e incendiou tudo em seu caminho. Lupicino agrupo todas as unidades romanas disponíveis em Marcianópolis para fazer frente à destruição gótica e marchou ca. 14 quilômetros para encontrar os rebeldes.[16][17] Simon MacDowall estima que o contingente de Fritigerno era composto de 5 000 homens, dos quais 1 000 eram ginetes, enquanto Lupicino comandou 7 000-8 000, dos quais 1 000 eram ginetes.[18] Apesar da vantagem numérica, Lupicino foi severamente derrotado e quase perdeu sua vida em combate. Para evitar esse destino, decidiu abandonar seus soldados à morte,[19] bem como perdeu seus estandartes.[20]
Essa vitória tervíngia abriu caminho à depredação das províncias balcânicas sem oposição pelos meses consecutivos[9] e motivou os mineiros trácios, os romanos subalternos sobretaxados e os escravos de origem goda a unirem-se à revolta,[21] bem como um destacamento romano de origem tervíngia liderado por Colias e Suérido que realizou um cerco mal-sucedido contra Adrianópolis.[22]
Referências
- ↑ a b c MacDowall 2011, p. 43.
- ↑ MacDowall 2011, p. 42.
- ↑ Frassetto 2013, p. 262.
- ↑ Hughs 2013, p. 149.
- ↑ Wolfram 1990, p. 72.
- ↑ Curran 1998, p. 95.
- ↑ Heather 2005, p. 152-153.
- ↑ a b Hughs 2013, p. 153-154.
- ↑ a b Frassetto 2013, p. 263.
- ↑ a b c Wolfram 1990, p. 119-120.
- ↑ Hughs 2013, p. 154.
- ↑ Burns 1994, p. 26.
- ↑ Heather 2005, p. 164.
- ↑ Martindale 1971, p. 374.
- ↑ Lenski 2002, p. 328.
- ↑ Kulikowski 2006, p. 133–134.
- ↑ Heather 2005, p. 171.
- ↑ MacDowall 2011, p. 42-43.
- ↑ Coombs-Hoar 2015, p. 55.
- ↑ Hughs 2013, p. 156.
- ↑ Wolfram 1990, p. 120.
- ↑ Wolfram 1990, p. 120-121.
Bibliografia
- Burns, Thomas S. (1994). Barbarians Within the Gates of Rome: A Study of Roman Military Policy and the Barbarians, Ca. 375-425 A.D. Bloomington, Indiana: Indiana University Press. ISBN 0253312884
- Coombs-Hoar, Adrian (2015). Eagles in the Dust: The Roman Defeat at Adrianopolis AD 378. Barnsley, South Yorkshire: Pen and Sword. ISBN 1473852463
- Curran, John (1998). Cameron, Averil, ed. The Cambridge Ancient History. Volume XIII. The Late Empire, A.D. 337—425. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-30200-5
- Frassetto, Michael (2013). Early Medieval World, The: From the Fall of Rome to the Time of Charlemagne. Santa Barbara, Califórnia: ABC-CLIO. ISBN 1598849964
- Heather, Peter (2005). The Fall of the Roman Empire: A New History. Londres: Macmillan. ISBN 0-333-98914-7
- Hughs, Ian (2013). Imperial Brothers: Valentinian, Valens and the Disaster at Adrianople. Barnsley: Pen and Sword. ISBN 1848844174
- Kulikowski, Michael (2006). Rome's Gothic Wars: From the Third Century to Alaric. Cambridge: Cambridge University Press
- Lenski, Noel Emmanuel (2002). Failure of Empire: Valens and the Roman State in the Fourth Century A.D. Berkeley e Los Angeles: California University Press. ISBN 978-0-520-23332-4
- MacDowall, Simon (2011). Oriol Poveda Guillén (trad.), ed. El ocaso de Roma. Adrianópolis. Madri: Osprey Publishing. ISBN 978-84-473-7336-9
- Martindale, J. R.; A. H. M. Jones (1971). The Prosopography of the Later Roman Empire, Vol. I AD 260-395. Cambridge e Nova Iorque: Cambridge University Press A referência emprega parâmetros obsoletos
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(ajuda)
- Wolfram, Herwig (1990). History of the Goths. Berkeley, Los Angeles e Londres: University of California Press. ISBN 9780520069831